• Imprimir
  • Compartilhar


  • Pr. defende o evangelismo na prisão: ‘O amor não é seletivo’

    Pr. defende o evangelismo na prisão: ‘O amor não é seletivo’

    Armando Bispo é pioneiro no trabalho social nos presídios de Fortaleza

    Na liderança da Igreja Batista Central de Fortaleza desde 1983, o pastor Armando Bispo sempre procurou conduzir suas ovelhas a serem relevantes e terem relacionamento com a comunidade onde estão. Além de compartilharem o Evangelho publicamente, ou seja, fora das quatro paredes da igreja, de casa em casa, eles também têm levado a mensagem de amor de Deus para pessoas que vivem marginalizadas.

    Armando tornou-se seguidor dos princípios bíblicos em 1971 e recebeu formação teológica no Seminário Batista Regular e no Grand Rapids Baptist Seminary, em Michigan, nos Estados Unidos. Há 40 anos é casado com Heloiza, com quem tem duas filhas, Midiã e Elissa.

    Em seu ministério, ele vem deixando uma poderosa marca em sua cidade por meio da Fundação Batista Central, um forte trabalho de ação social que ressocializa presos. Foi ele que trouxe para o Brasil o projeto Celebrando Restauração. Nele, dependentes químicos e criminosos são recuperados.

    A inspiração foi uma proposta criada em 1990, pelo pastor John Baker e aplicada por Rick Warren, da Saddleback Church. O projeto mistura os 12 passos do Alcoólicos Anônimos com princípios bíblicos. Em entrevista ao Pleno.News, ele falou sobre o trabalho de evangelismo com presidiários.

    Como você começou a visitar os presos?
    Desde que eu cheguei a Fortaleza, comecei a ter uma interação com a comunidade. Meu coração sempre foi assim, voltado para as pessoas. Isso se acentuou em 1988 quando um indivíduo que já tinha cumprido pena e era de alta periculosidade, foi à igreja para bater em um colega dele. Aliás, ele foi com a intenção de matar um homem e chegando lá decidiu que ia me atingir também. Só que ele se converteu. Ele foi tomado por Jesus e eu comecei a andar com ele, que também tinha fissura por drogas. Quando ele ficou limpo de verdade começou a querer evangelizar os amigos do presídio e me levou junto.

    Como foi esse início?
    Durante muitos anos, íamos só ele e eu. Muitos tinham medo porque os presídios eram pouco seguros. Mas com o tempo as pessoas começaram a fazer o trabalho. O Celebrando veio para a igreja e levamos o projeto para os presídios. Temos um grupo de voluntários grande e pessoas que têm um ministério só focado no presídio. Então, tudo tomou um vulto que aquele homem nunca sonhou. Não foi algo intencional, mas aconteceu. Hoje ele tem mais de 70 anos.

    Quais as dificuldades desse tipo de trabalho?
    Nós doamos mil colchões para um presídio porque tinham colocado fogo nos colchões, mas encontramos oposição de pessoas dizendo: “Pastor, eu compro uma lata de leite para uma criança, mas não dou um colchão para esse bandido”. Aí eu disse: “Irmão, o amor de Deus não é seletivo. Deus ama o bandido, o morador de rua, o drogado, o traficante”.

    A igreja encara bem?
    Atualmente, as pessoas recebem bem esse tipo de trabalho. Temos cerca de 40 indivíduos que estão cumprindo pena na Vara de Execução de Penas Alternativas (Vepa) e o juiz disse para cumprirem na igreja. Os membros sabem que no meio daquela multidão assistindo ao culto tem uns 30 ou 40 bandidos. Nossa igreja, hoje, comprou o projeto, ou seja, acredita nessa ação. Isso entrou no nosso DNA.

    Por que essa visão é importante?
    A Palavra é que nós, como Igreja, não podemos nos tornar especialistas em eventos. Temos que ser especialistas em encontros, relacionamentos. Nossa igreja, particularmente, nunca teve um lugar fixo, um templo. Essa forma de desinstalar a igreja ajuda a compreender que a obra é lá fora. Quando a gente fala do social, dos presídios, é porque Deus nos manda, como diz em Isaías 61, que “o Espírito de Deus está sobre mim para socorrer os pobres, soltar os laços”. Não vamos porque somos melhores do que os outros, mas porque Deus falou a nosso coração.

    Pode contar alguma história?
    A mais recente foi que eu casei um homem que era preso, tinha fugido e a polícia estava atrás dele. Ele se livrou das drogas em nossa casa de recuperação. Quando nós soubemos que ele era fugitivo, dissemos que ele teria que acertar as contas com a lei. Ele disse que queria casar antes, então realizei a cerimônia. O Carlinhos Félix estava lá e cantou Uma Aliança de Amor. Eu fiz o casamento e falei para a igreja que no dia seguinte o levaria para a delegacia. Ele é um ex-bandido restaurado mas que vai cumprir o que a lei determinar.

    E o que leva uma pessoa a julgar o próximo?
    Uma pessoa que menospreza o bandido está em negação em relação aos seus próprios pecados. Ele não está andando diante de Deus, mas diante dele mesmo, achando que é legal, normal e bom aos próprios olhos. Quando essa pessoa andar diante de Deus e deixar a luz entrar, vai ver que é tão pecadora quanto aqueles caras.

    E o que motiva você a continuar investindo nessas pessoas?
    Eu amo esses indivíduos e consigo abraçar e demonstrar amor a um cara drogado, bandido, que vem dizer que está com um arsenal de arma no carro. Eu sei o quão bandido eu seria se, eu não tivesse Deus. Eu não faço o que ele faz por causa de Jesus. A misericórdia tem que caminhar comigo para eu saber que estou no fio da navalha e não posso julgar o outro. Posso reprovar o que ele fez, mas não posso odiá-lo. Se a gente sair de perto de Jesus, as piores coisas acontecem.


    Fonte: Pleno.News


    O conteúdo das notícias é de responsabilidade de seus respectivos autores e veículos de comunicação, não refletindo necessariamente a opinião da ICESO


    Data : 2018-11-06
    Autor:

    Não existem comentários nesta notícia, seja o primeiro.